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Maia, Portugal
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domingo, 18 de abril de 2010

Vêem com o vento

« Trá-los com o vento, como as bactérias. Colhem-nos as riquezas, mas só semeiam misérias. Ocupam-nos espaços, os poucos que reservamos para grandes esperanças e maiores enganos. Expõe-nos as fraquezas, trocam-se ombros. Infectam-nos a alma com promessas vãs. Escoa-se o tempo curto com ilusórias conexões, gasta-se uma vida inteira com paranóias e desilusões. E o tempo insiste em passar, e o sonho a definhar. Aos bocadinhos. É a tristeza que mata no berço a pequena fogueira, chama imaginaria de emoções.
Queima-nos por dentro quando para de arder. Só fumaça. O incêndio é anedota, a emoção chalaça.
Trá-los o vento matreiro e espanca-nos a vontade. É mesmo muito dura, esta estranha realidade…
Brincadeiras de putos à mesa de um café. Coxas herméticas, fechaduras de trancas, defender a paliçada. Ninguém deserta, falta coragem, ninguém acerta, o inimigo não se vê.
Continuemos a conversar, a luta continua. Palavras para que? Leva-as o bandido que insiste em soprar, para outros ouvidos, corpos frios que se limitam a escutar. As vidas dos outros.
Ia voar, já aterrei. Fecharam o cordelinho e o balão desceu. Oferecem-nos as asas para nos negarem o paraíso. Gás feito chumbo, pesa-nos a consciência. E nem sabemos porque. São certeza que sempre nos traem, ou que não queremos ver. Não duvidamos de aparências, cultivamos. Amamos farsas, pouco nos ralamos. O engano somos nos e as vidas que levamos.
Vêem com o vento e com o vento vão, o diabo que os carregue! A própria solidão é amiga da verdade. Será?
Isolemos os casulos, fechem-se as portinholas, todos muito seguros, livres de conversas. Em trincheira sou castelos, cada um trata de si, disputemos as batalhas.
Vamos ver televisão, vamos parar de pensar. As palavras, lá fora, continuam a passar, a passar… »

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